Resenha: Perdão, Leonard Peacock por Matthew Quick

13:37

Sinopse: Hoje é o aniversário de Leonard Peacock. Também é o dia em que ele saiu de casa com uma arma na mochila. Porque é hoje que ele vai matar o ex-melhor amigo e depois se suicidar com a P-38 que foi do avô, a pistola do Reich. Mas antes ele quer encontrar e se despedir das quatro pessoas mais importantes de sua vida: Walt, o vizinho obcecado por filmes de Humphrey Bogart; Baback, que estuda na mesma escola que ele e é um virtuose do violino; Lauren, a garota cristã de quem ele gosta, e Herr Silverman, o professor que está agora ensinando à turma sobre o Holocausto. Encontro após encontro, conversando com cada uma dessas pessoas, o jovem ao poucos revela seus segredos, mas o relógio não para: até o fim do dia Leonard estará morto.
Título: Perdão, Leonard Peacock 
Autor(a): Matthew Quick
Páginas: 224
Editora: Intrínseca
Avaliação: 5/5 

Eu simplesmente não estava preparada para o que encontrei nesse livro. Mesmo depois de ler várias resenhas, saber a sinopse e estar familiarizada com a escrita do Matthew Quick nada me prepararia para essa leitura. É um livro rápido, leitura de um dia, mas tão intenso, tão chocante e tão real que eu não tenho nem ideia de como posso escrever uma resenha sobre ele. Matthew Quick trata de todos os podres que a gente tenta esconder, tudo que nós não gostamos de lembrar que existe é escancarado na nossa frente em seus livro e em Perdão, Leonard Peacock não poderia ser diferente. Um dos melhores e mais honestos livro que já tive a oportunidade de conhecer. 


No seu aniversário de 18 anos, Leonard Peacock decide comemorar fazendo algo que já estava planejando a muito tempo: pegar a relíquia de guerra do seu avó, uma P-38 nazista, matar seu ex-melhor amigo e depois se suicidar. Mas antes disso precisa dizer adeus a quatro pessoas importantes na sua vida, aquelas que fizeram possível para ele aguentar até ali. Decidido a realizar seu plano e dar um fim marcante a sua vida miserável, Leonard saí de casa com quatro presentes na mochila e a sua arma embrulhada em um papel de presente cor de rosa.

Não esperem leveza, humor ou qualquer outra coisa do tipo nesse livro, logo de cara somos jogados na mente de Leonard onde ele guarda todos esses pensamentos e sentimentos melancólicos. Nesses seus 18 anos de vida ele sofreu da perda de amor e carinho, seu pai, famoso por uma música só, abandonou a família e sumiu no mundo, sua mãe se mudou para seguir a carreira de estilista e só aparece quando é estritamente necessário e ele teve uma breve e curta experiência de amizade. Ele é um garoto sozinho no mundo que encontrou conforto nas pessoas e situações mais estranhas e inusitadas. Isso fica evidente conforme vamos descobrindo para quem são aqueles quatro presentes e é um pouco deprimente que algo tão insignificante possa ter tido tanto valor para a vida de uma pessoa. 

Quando nós vivemos cercados de família e amigos, pessoas que se importam com a gente, fica difícil imaginar que existam pessoas por aí que sofrem tanto por serem sozinhas, por não existir um único alguém que se importe e lhe deseje feliz aniversário. E Leonard é uma dessas pessoas, é impossível não sentir o coração apertado durante a leitura, principalmente porque ele não tem culpa nenhuma do que fizeram com ele. 
Querendo ou não, nós temos um pouco de preconceito com pessoas suicidas, com fato deles serem fracos, de desistirem. Mas com o Leonard a gente percebe que não é assim. Por muito tempo ele tentou, ele lutou e procurou um pouco de esperança, ele chegava a sair por aí olhando os adultos no metro para descobrir se são felizes, se alguma coisa melhora no futuro. Mas o que ele encontrou foram pessoas acabadas, destruídas  desmotivadas e entregues a circunstâncias. Quem é fraco não é quem toma as rédeas da sua vida, nem que seja para por um fim nela, mas sim quem aceita a infelicidade e não faz nada para mudá-la. 
Assim como essa crítica que eu expus aí em cima, o livro é repleto delas. Como Leonard não tem ninguém ele passa muito tempo observando as pessoas e o mundo a sua volta, enxergando coisas que nós normalmente não vemos. Como eu disse no começo da resenha, o Matthew Quick joga na nossa cara coisas que existem, mas não queremos ver. Como essas pessoas que talvez encontramos todos os dias, mas não percebemos a sua tristeza, como essa acomodação com a infelicidade e tantas outras coisas, tantos outros tapas na cara, que dá vontade de se encolher de vergonha da sociedade que vivemos e aceitamos viver. 


Além do Leonard, que é um personagem memorável por sua intensidade, a estória é cheia de personagens marcantes. Não quero falar muito sobre eles porque é muito mais gostoso ser surpreendido pelo livro - como eu fui -, mas queria dar um destaque especial a um deles. Herr Silverman é o professor de Holocausto de Leonard na escola e uma pessoa incrível, como ele mesmo diria, ele é especial. Ele não é aquele tipo de professor que se interessa apenas em fazer seus alunos entrarem na faculdade, ele quer ensinar sobre a vida para eles, sobre as pessoas e sobre sentimentos. Ele é simpático, cheio de personalidade e se importa, realmente se importa. Leonard é fascinado por ele e, confesso, que eu também fiquei. Queria poder encontrar um Herr Silverman na minha vida.

Uma das grandes questões do livro é porque Leonard quer tanto matar seu ex-melhor amigo e porque ele o odeia a tal ponto, o que só nos é revelado bem perto do final. E posso dizer com a mais absoluta sinceridade que nunca, nem em um milhão de anos, eu esperava por aquilo. O fato é que o Leonard já tenha tanta merda na sua vida, já sofria tanto, que não era necessário nada muito forte para justificar suas ações. Mas, obviamente, o Matthew Quick não se contentaria com pouco. Ele quebrou meu coração ainda mais e me chocou de tal forma que eu não posso explicar. Eu não esperava por aquilo!


A narrativa do Matthew Quick combina com o conteúdo do seu livro, ele escreve de forma direta, sem eufemismos ou rodeios, mas ao mesmo tempo tem reflexões incríveis. Acho que foi um dos livros que eu mais marquei citações na minha vida, e olha que ele é bem pequeno. Uma coisa legal do livro é que no meio da estória existem algumas "cartas do futuro" escritas pelo próprio Leonard o que eu achei muito interessante e diferente. A estória se passa em vinte e quatro horas e, apesar de ser muito intensa, dá para ler um poucas horas já que é impossível de se largar.


Eu chorei, chorei pra caramba e não tenho vergonha disso. Em cada despedida, em cada "carta do futuro" e, principalmente, no final. Tudo que eu queria era pedir perdão ao Leonard, por cada injustiça que foi feita a ele, por cada falta de atenção e de carinho que ele sofreu e principalmente por cada pessoa que passou por ele e não percebeu que ele precisava de ajuda. É horrível saber que podem existir vários Leonards Peacocks por aí pelos quais eu passo e não me dou conta de que poderia mudar a sua vida. 

Sei que muitos não vão gostar do final, eu mesma precisei de um tempo para digerí-lo e aceitá-lo, mas faz sentido que do mesmo jeito abrupto que o Leonard entrou na nossa vida ele tenha saído. Eu só não queria dizer adeus. Se posso terminar essa resenha de uma forma satisfatória é pedindo, por favor, leiam esse livro. Conheçam esses personagens maravilhosos, sintam tudo tão intensamente e peçam perdão a Leonard. 
Mas, falando sério, por que algumas pessoas postam na Internet o jeito correto de cometer suicídio? Será que querem que gente estranha e triste como eu se vá para sempre? Será que acham que é uma boa ideia algumas pessoas darem fim a si mesmas? Como saber se você é uma dessas pessoas que deve cortar os pulsos do modo certo com uma gilete? Há uma resposta para isso também? Procurei no Google, mas não encontrei nada de concreto. Apenas maneiras de completar a missão. Nenhuma justificativa.
Eu sei que você só quer que tudo acabe, que não consegue ver nada de bom em seu futuro, que o mundo parece escuro e terrível, e talvez você tenha razão, o mundo pode ser, definitivamente, um lugar apavorante.Eu sei que você mal está suportando. Mas, por favor, aguente mais um pouco. Por nós. Por si mesmo.
Mas eu era apenas um menino. Nós éramos apenas crianças, e talvez ainda sejamos. Você não pode esperar que crianças salvem a si mesmas, não é mesmo?

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2 comentários

  1. Olá Carol
    Comprei este livro a uns dias e estou só aguardando terminar um livro que estou lendo para iniciá-lo. Cada resenha que leio fico mais animado, parece ser um livro muito bom.

    Estou seguindo seu blog para acompanhar as atualizações e sempre que puder fazer uma visita.
    Abraços

    http://reaprendendoaartedaleitura.blogspot.com.br/

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  2. Parabéns pela resenha! Depois de O Lado Bom da Vida, estou louco pra ler esse livro :D

    Ah, e já estou curtindo o blog! ;)

    Abraços, Samuel.
    http://recodificado.blogspot.com.br/

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