Resenha: Princesa Mecânica por Cassandra Clare

13:02

Sinopse: Continuação de Príncipe mecânico, “Princesa Mecânica” é ambientado no universo dos Caçadores de sombras, também explorado na série Os Instrumentos mortais, que chega agora ao cinema. Neste volume, o mistério sobre Tessa Gray e o Magistrado continua. Mas enquanto luta para descobrir mais sobre o próprio passado, a moça se envolve cada vez mais num triângulo amoroso que pode trazer consequências nefastas para ela, seu noivo, seu verdadeiro amor e os habitantes do Submundo.

Título: Princesa Mecânica - As Peças Infernais #3
Autor(a): Cassandra Clare
Páginas: 434
Editora: Galera Record
Avaliação: 5/5 

Contém spoilers dos livros anteriores.
As Peças Infernais foi uma série que me surpreendeu a cada livro e que, além de se provar incrível, se tornou extremamente pessoal. Em Anjo Mecânico nós fomos introduzidos aos personagens, a época, ao conflito principal com maestria, em Príncipe Mecânico sofremos com uma tensão emocional tão intensa que fez do livro uma grande tortura e em Princesa Mecânica tivemos o ápice de tudo isso, que me fez chorar em cada maldita página e esmagou meu coração. O grande mérito da Cassandra Clare aqui não foi o plano de fundo do mundo dos Caçadores de Sombras, nem a inclusão do steampunk, mas criar personagens extremamente complexos e ligá-los com sentimentos tão intensos, sinceros e lindos que é praticamente impossível não amar um livro que trate desse tipo de amor. Já aviso de antemão que nada do escrever nessa resenha vai fazer jus aos meus sentimentos em relação a esse livro e a esses personagens.


Tessa Gray ainda não sabe o que é e o porque de ser tão importante para Mortmain e seu plano de vingança contra os Caçadores de Sombras. Além de aprender a lidar com os seus poderes, destruir os planos de Mortmain e encontrar uma maneira de lidar com as Peças Infernais, Tessa se vê noiva de Jem, mas, ao mesmo tempo, com um sentimento tão forte quanto para seu parabatai, Will. Divida entre esses dois garotos que se amam e a amam incondicionalmente Tessa vai fazer de tudo para salvar seu noivo da morte que está mais próxima do que nunca e defender si mesma e os que ama de Mortmain enquanto os Caçadores de Sombras do Instituto de Londres entram em uma disputa interna com os membros da Clave.

Como eu tenho muita coisa para falar, resolvi dividir a resenha em tópicos para não deixar nada de fora e fazer tudo ficar mais organizado.

Will e Jem

É difícil falar sobre o que é, simplesmente, a relação mais sincera e forte que eu já testemunhei ser desenvolvida em um livro. Esqueça Mortmain, Tessa, o triângulo amoroso, nada disso se compara em importância com a relação entre o Will e o Jem. 
O que existe entre os dois está muito longe de ser um simples laço de parabatai e isso fica bem claro nas lindas cenas em que os dois se abrem e tentam demonstrar o quanto são importantes um para o outro.
Como está dito no próprio livro, o Jem é a búsula do Will, o que durante muitos anos o manteve inteiro, são e humano, a única pessoa que ele se permitiu amar, o único para quem se abriu. Foi no Jem que ele depositou todas as suas esperanças e sua razão de continuar vivendo, mesmo que soubesse que ele não permaneceria na sua vida por muito tempo. 
Depois de ter perdido os pais e aceitar que iria enfrentar a morte, cara a cara, todo dia, Jem encontrou em Will a alegria que precisa, alguém que não o olharia com pena, mas o amaria por quem ele é e não por sua doença. Alguém que ele poderia salvar.
Isso pode parecer brega, bobo e clichê, mas é, literalmente, como se os dois fossem um só. Como se um pedaço do Will existisse no Jem e como se um pedaço do Jem existisse no Will e que, por isso, quando Jem morresse um pedaço do Will iria ser arrancado junto. 
Esse livro tem um sentimento de profundo desespero, a procura insana do Will por uma maneira de salvar Jem, a sua dor em ver a vida do seu parabatai chegando perto do fim, é tudo tão indescritível, tão duro de se ver, que machuca em que está lendo. Eu, de verdade, senti como se estivessem esmagando meu coração por que nada, NADA se compara a ligação entre esses dois personagens e o amor que os uni e ver isso sendo quebrado, vê-los tentando dizer adeus, é a mais torturante das sensações. 
A relação entre o Will e o Jem foi o maior causador de lágrimas do livro, chorei no começo, no meio e me encolhi na cama, soluçando, no final. A cena da quebra do laço parabatai foi uma das cenas mais cruas, fortes, intensas e dolorosas que já tive a oportunidade de ler na vida. A Cassandra soube como ninguém transformar o sofrimento e desespero de perder alguém em dor física.

O triângulo amoroso

Essa relação tão singular entre o Will e o Jem é o que faz do triângulo amoroso algo tão complexo, único e doloroso. 
É realmente tocante perceber que eles compartilham um tipo de amor tão puro e sincero que não existe espaço para ciúmes, brigas ou remorso. Por compartilharem sentimentos de mesma força e intensidade eles se entendem, não tentam comparar o amor de um com o de outro, por outro lado, se sentem gratos por existir alguém que está disposto a se dedicar tanto quanto eles fariam a outra pessoa.
Eu não gosto de triângulo amorosos, se vocês me acompanham a algum tempo já devem ter percebido, e isso acontece puramente porque eu não consigo torcer para dois personagens, eu sempre amo um e odeio o outro. Mas As Peças Infernais mudou completamente isso. Quando a Tessa explica, no livro, que ama os dois tão igualmente exatamente por que eles compartilham uma mesma essência, eu senti como se não pudesse discordar. Provavelmente, esse é o mesmo motivo pelo qual eu também me senti tão dividida.
Não tem como não amar os dois personagens e torcer pelos dois, apesar de quê eu tenho um carinho especial pelo Will. Eu ainda amo o Jem, mas o Will é um personagem mais obscuro, mas complexo e, como tal, nós acabamos descobrindo mais sobre ele e criando uma ligação mais forte com o personagem. Eu conheci o Will, seus demônios, sua força, seus medos e me apaixonei por tudo isso, fazendo com que, mesmo que eu não me importasse nem um pouco se a Tessa acabasse com o Jem, ainda torcia com todas as minhas forças para que o personagem terminasse feliz.
O maior ponto de interrogação da série para mim era como a Cassandra Clare iria solucionar esse triângulo amoroso e, sinceramente, foi  absolutamente genial. Ela me enganou completamente no meio, me deu um baque no final e outro ainda maior no Epílogo. Eu não esperava por nada do que aconteceu e fiquei muito feliz em ser surpreendida de novo e de novo pela estória. Fica muito evidente que a autora tinha tudo muito bem planejado desde o começo e seguiu o plano com maestria.
O Epilogo é um caso a parte e eu, sinceramente, gostei demais do foi mostrado nele. Desde a primeira parte, extremamente tocante, e a segunda que é, acima de tudo, surpreendente. Eu não poderia ter ficado mais feliz com o destinos dos personagens, ou com a forma com que foi solucionado todos os problemas. Sinto ainda que nós precisamos de um pouco mais de informações, mas fica bem claro que elas nos serão dadas ou no último livro de Os Instrumentos Mortais ou - e mais provavelmente - na nova série da Cassandra Clare.

O enredo


Apesar de ter passado metade da resenha falando dos três personagens principais, eles não são o foco principal de todo o livro e é de tirar o chapéu para a maneira com que a autora conseguiu equilibrar todos os seus núcleos de conflito. Mesmo que eu estivesse, inicialmente, mais ansiosa por tudo que envolvesse o Will, o Jem e a Tessa em nenhum momento - nenhum mesmo - o livro me entediou ou me fez desinteressada, por mais que estivesse tratando do mais irrelevantes dos assuntos.

Achei muito interessante a incorporação de um lado mais político do mundo dos Caçadores de Sombras e também da forma como isso foi primeiramente incorporada, de forma muito sútil e através de cartas. É bom ver que a maldade, o egoísmo e corrupção existe também do lado dos "bonzinhos" e ver que a Cassandra está realmente aproveitando tudo que essa sociedade fascinante que ela criou pode oferecer para suas estórias.
A incorporação de temas mais leves na avalanche de sentimentos intensos e tensão que é esse livro é extremamente bem-vinda e bem feita. Seja das partes realmente engraçadas - tem como não rir do Will e da sua obsessão com a Varíola Demoníaca? - ou com os romances mais leves que se desenvolveram aqui, principalmente se estivermos falando do Gideon e da Sophie. É, de verdade, aquele tipo de livro que de faz dar gargalhadas em meio as lágrimas.
Outro mistério muito importante da série sempre foi a dúvida de o que e de quem é a Tessa e posso dizer que não fiquei nem um pouco desapontada com a revelação. Não é algo muito chocante ou revelador, mas faz muito sentido dentro de tudo que já sabíamos e mostra, mais uma fez, como tudo já tinha sido meticulosamente planejado e a esperteza da Cassandra Clare em explorar seu mundo.
Talvez o único ponto que possa decepcionar alguns leitores em Princesa Mecânica seja o desfecho de todo o conflito que envolve Mortmain e seus autômatos. O que eu senti lendo os três livros é que o grande destaque deles são os personagens e as relações que eles desenvolvem entre si, fazendo do Mortmain simplesmente o empurrão necessário para que tudo acontecesse. Sendo assim, não fiquei realmente decepcionada com a maneira simples com que tudo foi solucionado. É claro que quando tudo terminou eu pensei "Peraí, é só isso mesmo?", mas levando tudo em consideração e essa minha resolução de que esse conflito nunca foi o maior destaque, esse anticlímax que foi o desfecho do conflito dos Caçadores de Sombras com as Peças Infernais não me deixou realmente incomodada ou diminui o valor incalculável do livro - e da série como um todo - para mim. Mas para aqueles que estão ansiosos por esse momento ou que esperam um grande e memorável confronto final vão acabar não terminando a leitura tão satisfeitos assim.

Os personagens


Isso é um conceito puramente pessoal, mas para mim o grande protagonista do livro é o Will. Agora que sua maldição foi revelado nós, finalmente, tivemos acesso completo a toda a complexidade dos seus sentimentos e, nossa, não estava preparada por algo tão intenso. Eu senti na pele a sua dor, seu medo, sua angústia e seu amor ilimitado por seu parabatai e sua noiva. A intensidade desesperadora de tudo que ele sente me tocou bem lá no fundo e me fez amar o personagem de maneira incondicional. Will é um personagem extremamente real, com suas inúmeras fraquezas e desvios, mas com uma beleza também imensa por, como diz o Magnus, sentir tudo tão intensamente. Além, é claro, do sarcasmo delicioso que ele carrega.

Como já comentei, não cheguei a sentir uma conexão tão forte quanto com o Jem, mas isso não quer dizer que também não ame o personagem de sua própria maneira. Com toda sua bondade, seu amor puro e inquestionável e, principalmente, por sua força. O Jem luta para viver, não só por si, mas para aqueles que precisam dele, que não suportariam a dor de sua perda e essa sua coragem é tocante e admirável.
A Tessa é uma protagonista incrível, quanto a isso não existem dúvidas. Ela também é muito forte, corajosa, determinada e pronta para fazer quaisquer sacrifícios para proteger aqueles que ama. E, além de tudo, ama seus dois meninos com a mesma paixão, dedicação e intensidade.
É incrível como também nos apegamos tanto aos personagens secundários da estória. A Cassandra criou um livro repleto de personagens femininos fortes, corajosos e valentes, sem nenhuma exceção. Podemos estar falando da incrível Charlote, da Sophie e até mesmo da Cecily, irmã de Will, que me surpreendeu demais durante a leitura. Por outro lado temos personagens masculinos que além de serem igualmente corajosos, marcaram por sua dedicação. Os irmãos Lightwood realmente me conquistaram nesse livro, seguidos por Henry que é um caso a parte por sua fofura e, principalmente, inteligência.
E, é claro, não tem como não falar do nosso maravilhoso Magnus. Sinceramente, a minha vontade é abraçar a Cassandra Clare em gratidão por criar um personagem como ele! O Magnus está incrível em Princesa Mecânica, mostrando toda a sua vulnerabilidade em meio a sua já conhecida cretinice, me fazendo cair ainda mais de amores por ele.

A narrativa


Tem algo de especialmente delicioso na forma como As Peças Infernais é escrita. Além da narrativa ser em terceira pessoa - ideal para esse livro - e contar com as citações super interessantes em cada começo de capítulo, a Cassandra conseguiu imprimir a época em que a estória se passa pela forma com que a escreveu. As conversas um pouco mais formais, a inteligência de seus personagens e as inúmeras e incríveis citações que são feitas no meio da estória trazem uma riqueza de detalhes imensa para o livro. A narrativa da série é extremamente particular e cativante, fazendo o livro ainda mais único por isso.


Conclusão final


Princesa Mecânica entrou para a lista de livros que mais me fez chorar na vida, a cada maldita página, a cada passagem que trazia a tona qualquer sentimento do Will ou do Jem eu chorava, sentia meu coração ficar apertadinho no peito para, no final, não conseguir terminar de ler o maldito Epílogo simplesmente por que eu não conseguia nem mesmo enxergar as palavras.

Eu acredito que qualquer coisa que te comova tanto, que passe tanta emoção e tanta intensidade não é pouca coisa. É algo que eu simplesmente não posso colocar em palavras, não tem como convencê-los de que eu senti tudo junto com os personagens, cada pingo de dor, de tristeza, de felicidade. Eu senti como se eles fossem parte de mim e, por isso, vivenciei cada pedaço dessa estória.
Portanto, só me resta concluir que a Cassandra Clare fez uma série excepcional, que mistura sobrenatural, ação, steampunk, Londres vitoriana e personagens incríveis, mas que tem seu maior mérito por tratar de sentimentos e pessoas, por mostrar uma ligação tão sincera e forte que nada pode diminuir ou quebrar. Eu realmente queria escrever uma resenha memorável sobre um livro que me marcou e emocionou tanto, mas o que saiu foi essa mistura desconexa que não mostra nem dez por cento do que é o livro. Só queria dizer para que leiam, para que não percam essa oportunidade.
Resumindo toda essa enorme resenha, posso dizer que Princesa Mecânica foi um fechamento maravilhoso para a série, uma leitura tão intensa e tão forte que me deixou com olhos inchados e o coração partido.

- Você salvou a minha vida. - dissera Will.
Um sorriso se abriu no rosto de Jem, tão brilhante quanto o amanhecer sobre o Tâmisa.
- Isso é tudo que eu sempre quis.
Havia bondade humana no mundo, pensou. Perdida em desejos e sonhos, arrependimentos e amarguras, ressentimentos e poderes, mas havia e Mortmain jamais enxergaria. 
Ave atque vale, pensou Will. Saudações e adeus. Nunca tinha pensado muito nas palavras antes, nunca pensou em por que não eram apenas uma despedida, mas também uma saudação. Todo encontro levava a uma partida, e assim seria enquanto a vida fosse mortal. Em todo encontro, havia um pouco da tristeza da separação, mas, em toda separação, havia um pouco da alegria do encontro. Ele não se esqueceria da tristeza.

You Might Also Like

0 comentários

curta no facebook

confira o último vídeo

Newsletter