Resenha: A Lista Negra por Jennifer Brown
16:28Sinopse: E se você desejasse a morte de uma pessoa e isso acontecesse? E se o assassino fosse alguém que você ama? O namorado de Valerie Leftman, Nick Levil, abriu fogo contra vários alunos na cantina da escola em que estudavam. Atingida ao tentar detê-lo, Valerie também acaba salvando a vida de uma colega que a maltratava, mas é responsabilizada pela tragédia por causa da lista que ajudou a criar. A lista com o nome dos estudantes que praticavam bullying contra os dois. A lista que ele usou para escolher seus alvos. Agora, ainda se recuperando do ferimento e do trauma, Val é forçada a enfrentar uma dura realidade ao voltar para a escola para terminar o Ensino Médio. Assombrada pela lembrança do namorado, que ainda ama, passando por problemas de relacionamento com a família, com os ex-amigos e a garota a quem salvou, Val deve enfrentar seus fantasmas e encontrar seu papel nessa história em que todos são, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas.
Título: A Lista Negra
Autor(a): Jennifer Brown
Páginas: 256
Editora: Guttenberg
Avaliação: 4/5
Como fã de livros intensos e dramáticos, há muito tempo queria ler A Lista Negra, principalmente pelos inúmeros elogios e resenhas positivas. Bullying é assunto sempre muito delicado de se tratar e o que é mais notável na obra de Jennifer Brown é que ela leva o assunto a sua mais extrema consequência, fazendo um livro realmente muito bom.
A vida de Valerie estava uma droga, seus pais vivam em uma interminável briga e quando saia de casa tinha que enfrentar o constante bullying que sofria na escola há muito tempo, mas, apesar de tudo, ela tinha Nick. Seu namorado entendia seus problemas familiares e ainda mais o que era sofrer, dia após dia, de inúmeras humilhações, o que fez os dois criarem Lista Negra, um caderno secreto onde eles colocavam tudo que odiavam, até mesmo as pessoas.Valerie não sabia que todas as brincadeiras, que ela julgava inocentes, sobre acabar com essas pessoas eram muito reais para Nick, não até ele sacar uma arma no refeitório da escola e começar a atirar em cada um que estava na lista. Val até tentou pará-lo,acabando com um tiro na perna quando se jogou na frente de uma de suas inimigas, mas isso não o impediu de ferir muitos e matar outros, inclusive ele mesmo.
Com as cenas desse massacre na sua mente, a morte do garoto que amava, a confusão de não entender o porquê e, principalmente, com a culpa por, mesmo sem saber, ter feito parte disso, Valerie precisa seguir com a sua vida e voltar para escola. Mas como fazer isso quando todos, até mesmo sua família e ela mesma, colocam sobre seus ombros o peso de todas essas mortes?
A estória se passa entre 2008 e 2009, uma época em que o bullying finalmente se tornou um mal de destaque na mídia e começou a evidenciar, de forma mais marcante, suas consequências. Infelizmente não é novidade massacres ocasionados por eles, como o relatado no livro, e é realmente muito interessante ler uma estória que trata sobre isso. Principalmente porque não aborda só o acontecimento em si, mas as causas e consequências também.
O livro começa no dia em que Valerie vai voltar para a escola, meses depois do tiroteio, mas a autora não se prende a cronologia dos acontecimentos. A todo momento voltamos para o dia em que tudo aconteceu e, principalmente, momentos e conversas entre a Valerie e o Nick que traziam evidências que a garota nunca enxergou.
A Lista Negra aborda um assunto que me marcou demais quando li Garota Exemplar da Gillian Flynn, ambas as estórias abordam o pensamento, um tanto perturbador, mas verdadeiro, de que nós nunca podemos realmente conhecer as pessoas. A Valerie acreditava realmente que conhecia Nick, todos os seus sentimentos e facetas, acreditava que quando falavam de matar certa pessoa era só para expressar raiva, nunca considerando verdadeiramente fazer aquilo.Mas, obviamente, ela estava errada.
É difícil também definir se a Valerie é realmente culpada ou não sobre o que aconteceu. Ela criou a Lista Negra, é verdade, também concordou com as ideias de ódio do namorado, mas, na sua cabeça, ela em nenhum momento usou isso para planejar algo contra as pessoas que infernizavam sua vida. É muito relativo, nessa situação, o conceito de culpa e o papel de cúmplice.
Eu acreditava que o acontecimento em si seria o grande destaque da estória, mas não é isso que acontece, deixando como grande destaque a busca por perdão da personagem, sejam das outras pessoas ou dela mesma. Só que nada disso diminui a choque por causa da crueldade das cenas do tiroteio. São cenas marcantes e emocionantes, assim como a recuperação dos personagens após tudo isso.
Uma coisa muito interessante no livro da Jennifer Brown é que ela não romantizou tudo, ela tentou mostrar os acontecimentos das formas mais cruas possíveis. Ela tenta desmentir que depois de um acontecimento como aquele muda tudo, por que isso não acontece. Quando alguém é ruim, vai continuar sendo ruim não importa que tenha enfrentado a morte cara a cara. Ou que mesmo vendo de perto o que bullying pode causar, as pessoas continuam com o mesmo comportamento.
Mas o que mais me marcou, foi a relação da Valerie com a sua família, sendo isso a parte mais cruel de tudo na minha opinião. O pai dela é uma pessoa horrível, o jeito que a trata, a forma que a culpa e o ódio que sente dela não é, de forma alguma, como um pai deveria agir. Eu senti tanto ódio dele e tanta pena da personagem por ter um pai daquele que eu, realmente, não consigo colocar em palavras.
A mãe dela já é muito mais complexa e difícil de lidar. Ela ama a filha e quer acreditar nela, mas ao mesmo tempo tem medo do que se passa dentro de Valerie. Ela me passou tanta verdade em suas ações, uma preocupação tão genuína com a filha que, mesmo que algumas das suas decisão tenham sido errôneas, eu entendi e admirei a personagem.
O único porém do livro para mim é que eu não me emocionei como esperava que acontecesse. Isso é algo muito pessoal, eu sei, mas não posso negar que esperava ser tocada muito mais profundamente pela estória. Só que isso não muda o fato de que A Lista Negra é uma estória cruel e triste, mas linda da sua própria maneira, principalmente por tratar sobre perdão.
Nunca o Colégio Garvin me pareceu tão intimidante quanto no meu primeiro dia naquela escola. Nunca eu iria associá-lo com um romance de virar a cabeça, com euforia, risadas, um dever bem-feito. Nada do que as pessoas pensam quando se lembram das suas escolas. Isso era apenas outra coisa que Nick tinha roubado de mim, de todos nós naquele dia. Ele não roubou apenas a nossa inocência e sensação de bem-estar. Ele também conseguiu roubar nossas memórias.
Shakespeare contou histórias sobre morte. Poe contou histórias sobre morte. Stephen King contou histórias sobre morte. E nenhum deles estava pregando assassinatos. Por isso nem mesmo percebi quando a conversa ficou séria. Não percebi quando se tornou pessoal. Não percebi que as histórias do Nick se tornaram narrativas de suicídio. De homicídio. E as minhas também. Só que, até onde eu sabia, ainda estávamos falando de ficção.
Vi todo o mundo, um mar ondulante de desconforto e tristeza, cada pessoa com sua própria dor, cada qual contando suas histórias, todas mais ou menos trágicas ou triunfantes. Nenhuma mais trágica ou triunfante que a outra. De certa forma, Nick estava certo: às vezes, todos temos de ser vencedores. Mas o que ele não entendeu foi que todos temos também de ser perdedores. Porque não se consegue uma coisa sem a outra.
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