Resenha: O Doador de Memórias por Louis Lowry
19:59Sinopse: Em O Doador de Memórias, a premiada autora Lois Lowry constrói um mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor, desejo ou alegria genuína.Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente - o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar.Título: O Doador de Memórias
Autor(a): Lois Lowry
Páginas: 224
Editora: Arqueiro
Avaliação: 3/5
Antes das notícias do filme, eu nunca tinha sequer ouvido falar de O Doador de Memórias. Mas assim que conheci sobre o que se tratava não poderia ter deixado de ficar curiosa já que gosto muito do gênero distópico. Então, depois de ver muitos comentários positivos, comecei a leitura com altas expectativas. E, infelizmente, para mim o livro foi muito menos do que poderia ser.
E quando Jonas chega na sua cerimônia de 12 anos uma coisa inesperada acontece, ele não foi designado para nenhuma das profissões comuns, mas sim para ser o Receptor de Memórias. Aquele que vai servir para guardar todas as memórias de tudo que aconteceu no mundo antes dele, o único, além do atual Receptor, agora Doador, que tem acesso a elas. E agora que Jonas conhece tudo que foi tirado deles, as cores, as emoções, os sentimentos, ele começa a perceber a crueldade do que a comunidade faz.
Se fosse para citar o ponto mais positivo do livro eu com certeza diria o mundo criado pela Louis Lowry. Ela criou uma espécia de utopia que sem a menor dúvida seria a imagem de uma sociedade perfeita na cabeça de algumas pessoas, por causa da paz e da organização vinda dela. E é perturbador perceber como cada vez mais e mais mundos distópicos trazem os sentimentos como o grande vilão. Não que seja impossível entender o porque já que, na teoria, faz muito sentido que são as emoções que levam as pessoas a agirem de maneira irracional. Mas ler O Doador de Memórias te faz perceber como é triste e sem sentido uma vida privada de sentimentos.
E toda essa construção da autora foi, também, o que acarretou no maior ponto negativo do livro para mim. O problema é que ela criou algo tão complexo, tão interessante e que poderia render tanta, mas tanta coisa, e acabou aproveitando só uns dez por cento de tudo isso. Acho que só de olhar o número de páginas vocês conseguem entender. Você acaba de se deparar com toda a extensão dessa nova realidade, todas as possibilidades dela e de repente a autora acaba com tudo, em um final abrupto e extremamente aberto.
Por existir mais três livros que se passam nessa mesma realidade pode ser esse problema acabe depois de lê-los, mas mesmo assim é como um banho de água fria sabe? O final realmente me desapontou. Mas eu com certeza quero ler os outros porque, como eu disse, falta muita coisa ainda para se saber.
O Doador de Memórias é um livro que mexe com o leitor, o faz enxergar muitas coisas de outra forma e debater consigo mesmo sobre algumas questões importantes. É uma visão de mundo diferente e um tanto quanto perturbadora. Mas está bem longe de ser uma das minhas distopias favoritas.
Lily, porém, não sentira raiva, agora Jonas sabia. Impaciência e exasperação superficiais, nada mais do que isso, fora o que sentira. Tinha certeza disso porque sabia o que era raiva de fato. Nas lembranças, vivenciara a injustiça e a crueldade e reagira com uma raiva que subira com tamanha força dentro de si que a ideia de discuti-la calmamente na hora da refeição da noite seria impensável. “Eu me senti triste hoje”, ouvira sua mãe dizer, e eles a consolaram. Mas Jonas experimentara tristeza de verdade. Sentira um grande pesar. E sabia que não havia consolo rápido para emoções assim. Eram mais profundas e não precisavam ser expressadas. Eram sentidas.
Jonas sentiu que algo se dilacerava dentro dele, uma dor terrível que abria caminho com suas garras para emergir num grito.
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