Resenha: O Segredo do Meu Marido por Liane Moriarty
14:00Sinopse: Imagine que seu marido tenha lhe escrito uma carta que deve ser aberta apenas quando ele morrer. Imagine também que essa carta revela seu pior e mais profundo segredo — algo com o potencial de destruir não apenas a vida que vocês construíram juntos, mas também a de outras pessoas. Imagine, então, que você encontra essa carta enquanto seu marido ainda está bem vivo... Cecilia Fitzpatrick tem tudo. É bem-sucedida no trabalho, um pilar da pequena comunidade em que vive, uma esposa e mãe dedicada. Sua vida é tão organizada e imaculada quanto sua casa. Mas uma carta vai mudar tudo, e não apenas para ela: Rachel e Tess mal conhecem Cecilia — ou uma à outra —, mas também estão prestes a sentir as repercussões do segredo do marido dela.
Título: O Segredo do Meu Marido
Autor(a): Liane Moriarty
Páginas: 368
Editora: Intrínseca
Avaliação: 3,5/5
Depois que foi anunciado o lançamento de O Segredo do Meu Marido apareceu uma avalanche de comentários positivos sobre o livro e, como uma boa curiosa, fiquei louca para lê-lo. Confesso que comecei a leitura sem saber muito bem o que esperar e terminei com os sentimentos conflituosos porque gostei e me desapontei um pouco ao mesmo tempo.
Cecilia Fitzpatrick tem uma vida devidamente organizada, cuidava de todas as necessidades de seu marido e de suas três filhas, era um membro importante da escola primaria cristã de suas meninas e uma empreendedora respeitada pelas mulheres da cidade. Tudo muda quando, por acaso, acaba encontrando uma carta de seu marido que deveria ser lida somente após a sua morte. O segredo contido naquelas páginas não vai afetar apenas a vida de Cecilia, mas também de outras mulheres, Tess e Rachel.
Tess é uma esposa, mãe e sócia de um pequeno negócio que vê tudo desmoronar quando sua prima, que é praticamente uma irmã, e seu marido revelam terem se apaixonado. Rachel nunca superou a morte de sua filha adolescente há mais de quinze anos, mas que até hoje não tem solução, e agora vê seu neto, seu único consolo, ser levado embora quando seu filho e sua nora dão a notícia de que vão se mudar para o outro lado do globo.
Não sei vocês, mas para mim nem o título, nem capa e muito menos a sinopse passam muito bem qual é a estória do livro e foi exatamente por isso que comecei a leitura sem saber o que esperar. Mas, mesmo depois de ler, não sei bem como explicar sobre o que se trata O Segredo do Meu Marido. A autora retrata momentos da vida, o cotidiano, o sofrimento com coisas que podem eventualmente acontecer, ou seja, apesar de existir esse tal grande segredo o livro é, na realidade, o retrato de três mulheres fortes lutando para sobreviver e serem felizes - ou o mais perto que se pode chegar disso.
A Liane Moriarty abordou dois temas em especial que realmente me fizeram pensar e que foram extremamente válidos.
A autora fala muito sobre possibilidades, sobre como cada pequeno ato pode mudar drasticamente nosso futuro. Eu já pensei sobre isso muita vezes e é ao mesmo tempo reconfortante e amedrontador perceber como, a cada segundo, querendo ou não, nós estamos decidindo todo o nosso futuro. No livro nós vemos claramente como cada decisão que tomamos tem um peso importantíssimos que podemos não notar na hora - ou nunca - mas que vai determinar as nossas vidas. Amedrontador é saber como é fácil estragar tudo e reconfortante é perceber que mesmo que esteja tudo dando errado, de repente, tudo pode mudar.
Outra coisa que fica muito clara no livro é de que a vida não é tão preto no branco como gostamos de acreditar. Existe sim, na teoria, a delimitação perfeita do certo e do errado, mas quando na vida real acontece de termos que escolher entre um e outro, nunca é tão claro. Sempre tem muitos sentimentos envolvidos, muitas vidas em jogo e muitos atenuantes. A Liane Moriarty mostra bem porque não podemos julgar os outros, ou as suas decisões, porque nada é tão simples assim. O que pode parecer tão errado na teoria, na verdade talvez seja apenas a melhor maneira de poupar muitos outros estragos. Essa é uma visão dura, porém realista e verdadeira.
Eu tive três problemas sérios com o livro que foram a razão do meu desapontamento. O enredo não é muito factual, os conflitos, na maior parte das vezes, são internos então é de se esperar que seja uma leitura mais lenta. Mas o que aconteceu foi que ela acabou sendo lenta de mais para mim e um pouco travada, eu não consegui me envolver completamente ou mergulhar de cabeça na estória.
O segundo problema foi a previsibilidade das reviravoltas. Qualquer leitor experiente vai, assim como eu, sacar qual é o grande segredo da carta logo nos primeiros capítulos - a verdade é nos revelada na metade do livro. Não posso dizer que isso estragou toda a leitura, mas deixou ela muito menos emocionante e, de novo, envolvente.
Por último, quando terminei o livro, eu fiquei com um ponto de interrogação na cabeça de porque, exatamente, a Tess está relacionada com o segredo da carta. Eu gostei da sua personagem, de todo o seu plot e até entendi a relação dela com as outras personagens, mas não entendi como essa carta afetou de alguma forma a sua vida. Eu posso ter deixado passar o link, mas enfim, foi algo que me incomodou.
O Segredo do Meu Marido é um livro interessante, que emociona e, principalmente, te faz pensar. Acabou não sendo tudo o que eu esperava, mas ainda assim foi uma leitura mais do que válida. Sinto falta de livros assim, que falam simplesmente sobre a vida e todos os obstáculos reais que ela coloca na nossa frente.
Tudo o que sabia era que, depois que o tirassem dela, a vida voltaria a ser insuportável, só que — e essa era a pior parte — ela de fato iria suportar, não morreria por isso, continuaria vivendo dia após dia após dia, um ciclo eterno de gloriosos nasceres e pores do sol que Janie jamais veria.
As pessoas pensavam que a tragédia trazia sabedoria, que elevava automaticamente o sofredor a um patamar mais alto, mais espiritualizado; porém, para Rachel parecia, na verdade, ser o contrário. A tragédia tornava o indivíduo pequeno e rancoroso. Não lhe proporcionava nenhum grande conhecimento ou discernimento. Ela não entendia droga nenhuma da vida, exceto que era arbitrária e cruel,(...)
Era assim que se convivia com um segredo terrível. Apenas seguia-se em frente. Fingia-se que estava tudo bem. Ignorava-se a dor profunda, o embrulho no estômago. De algum modo, era preciso anestesiar a si mesmo de forma que nada parecesse tão ruim assim, mas tampouco parecesse bom.
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