Resenha: Cartas de Amor aos Mortos por Ava Dellaria
14:30Sinopse: Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop… apesar de ela jamais entregá-las à professora. Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sobre sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky. Mas Laurel não pode escapar de seu passado. Só quando ela escrever a verdade sobre o que se passou com ela e com a irmã é que poderá aceitar o que aconteceu e perdoar May e a si mesma. E só quando enxergar a irmã como realmente era — encantadora e incrível, mas imperfeita como qualquer um — é que poderá seguir em frente e descobrir seu próprio caminho.
Título: Cartas de Amor aos Mortos
Autor(a): Ava Dellaria
Páginas: 344
Editora: Seguinte
Avaliação: 4/5
Logo que vi Cartas de Amor aos Mortos soube que era o meu tipo de livro. A capa linda, o título, a sinopse, tudo me fez ficar louca para ler, tanto que mesmo faltando poucos dias para o lançamento por aqui eu corri e li em inglês mesmo. E mesmo não sendo o melhor do gênero, eu não cheguei a me sentir decepcionada. A construção singular da estória, sua beleza e, principalmente, a escrita da Ava Dellaira compensaram os pontos negativos.
No primeiro dia de aula no colegial a professora de Inglês de Laurel pede um trabalho onde a classe precisa escrever cartas para pessoas mortas. Escolhendo escrever para grandes astros como Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse e Elizabeth Bishop, por exemplo, Laurel acaba fazendo delas um tipo de diário onde desabafa tudo que está sentindo e acontecendo em sua vida. E não é como se fosse pouca coisa.
Há alguns meses atrás sua irmã mais velha, May, morreu e levou consigo uma parte dela. Laurel amava a irmã, a admirava e fazia de tudo para ser parte da sua vida. Agora ela tem que enfrentar sozinha o luto, a fuga de sua mãe para o outro lado do país e os fantasmas do passado. Além de ter que lidar, também, como todas as mudanças que essa nova época da vida traz, assim como todos os perigos.
Eu sempre torci o nariz para estórias que não são contadas da maneira tradicional, tanto que é difícil vocês verem resenhas aqui no blog de livros escritos em forma de cartas, emails, ou coisas do tipo. A minha cabeça começou a mudar depois da experiência incrível que foi ler As Vantagens de Ser Invisível e foi exatamente por ter um comentário do Stephen Chbosky na capa que eu resolvi, mais uma vez, apostar nesse estilo de livro. E posso dizer que é exatamente a construção da estória através das cartas que me fez gostar tanto de Cartas de Amor aos Mortos.
A ideia de endereçar essas cartas a tantos ícones e pessoas famosas foi talvez a sacada mais genial da autora. Nenhum dos nomes é escolhido por acaso, o "remetente" tem sempre alguma relação íntima com o momento da estória, ou os acontecimentos relatados ali e os sentimentos da personagem. E, ainda melhor, a Ava Dellaria usa da estória dessas pessoas para explicar os sentimentos, dilemas, dúvidas da personagem, assim como para, também, dar a base para as mensagens que quer passar com sua estória. A autora desmembra a vida dessas pessoas, faz especulações sobre seus sentimentos e motivações e compara os seus conflitos reais com os conflitos ficcionais dos personagens.
Ainda falando sobre a construção do livro, acho que o ponto mais positivo, acima de qualquer coisa, é a escrita da Ava Dellaria. Ela tem uma habilidade ímpar de expressar sentimentos, o livro está repleto de passagens sensíveis, poéticas e profundas. A narrativa é de uma beleza e intensidade surpreendente, o que combina de forma perfeita com a estória que está sendo contada.
Como já é de se esperar pelo título e pela sinopse, a estória do livro é forte e densa. Não apenas porque a Laurel está lidando com a morte da sua irmã, mas também por muitos outros traumas e fatores que vão surgindo aos poucos durante o desenvolvimento do enredo. E esses dramas não dizem respeito somente a Laurel, muitos dos outros personagens possuem também conflitos sérios e difíceis. Eu gostei muito de como a Ava Dellaria tratou de assuntos complicados com naturalidade, ela não é apelativa e não exagera em assuntos considerados tabus, é tudo muito real.
Gostei, também, de como a autora equilibrou todas as facetas da estória, o luto da Laurel, sua relação com a família, com os amigos e o romance. Tudo isso é intercalado de forma muito bem balanceada e harmônica, nenhum assunto é supervalorizado ou deixado de lado.
Mas, apesar disso, não existe inovação nos temas abordados. Não vejo isso como um defeito, até porque é muito difícil encontrar problemas da vida real que nunca tenham sido abordados, mas a estória não consegue superar outras que já li dentro desse gênero. O fato é que mesmo achando tudo de uma beleza muito grande, o livro não me emocionou como acredito que deveria e é só por isso que não pude dar uma nota máxima para Cartas de Amor aos Mortos. Mas quero pontuar aqui que eu não consegui me conectar completamente,mas isso não quer dizer que o contrário não aconteça com vocês. Isso é algo muito pessoal e que, de maneira alguma, posso apontar como uma falha da autora.
É surpreendente saber que esse é o primeiro livro da autora, tanto pela construção complexa e bem feita da sua estória quanto, e principalmente, pela sua escrita maravilhosa e linda. Eu me maravilhei lendo essas cartas e acompanhando a trajetória difícil, porém cheia de esperança, da Laurel - que está longe de ser uma pessoa perfeita, mas que descobriu força em meio a todas as suas fraquezas. É um livro que eu recomendo para todo mundo, seja pelo diferencial da sua escrita ou pela beleza da sua estória. Vocês não vão se arrepender.
Eu estive pensando sobre isso. Sobre o que significa ver a imensidão de cada momento, de cada pedaço dele. Quero ser limpa - eu quero queimar todas as memórias ruins e tudo de ruim dentro de mim. E talvez seja que estar apaixonado faz. Assim a vida, a pessoa, o momento que você precisa manter fica com você infinitivamente.
Quando estamos apaixonados estamos ambos completamente em perigo e completamente salvos.
Você acha que conhece alguém, mas essa pessoa sempre muda, e você também continua mudando. Então eu entendi, de repente, o que significa estar vivo. Nossas armaduras invisíveis se deslocando dentro de nossos corpos, começando a se alinhar nas pessoas que vamos nos tornar.
E talvez o que crescer realmente significa é saber que você não tem que ser apenas um personagem, indo em qualquer que seja o caminho que a história diz. É saber que você poder ser o autor ao invés.
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