Resenha: Mar da Tranquilidade por Katja Millay

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Sinopse: Nastya Kashnikov foi privada daquilo que mais amava e perdeu sua voz e a própria identidade. Agora, dois anos e meio depois, ela se muda para outra cidade, determinada a manter seu passado em segredo e a não deixar ninguém se aproximar. Mas seus planos vão por água abaixo quando encontra um garoto que parece tão antissocial quanto ela. É como se Josh Bennett tivesse um campo de força ao seu redor. Ninguém se aproxima dele, e isso faz com que Nastya fique intrigada, inexplicavelmente atraída por ele. A história de Josh não é segredo para ninguém. Todas as pessoas que ele amou foram arrancadas prematuramente de sua vida. Agora, aos 17 anos, não restou ninguém. Quando o seu nome é sinônimo de morte, é natural que todos o deixem em paz. Todos menos seu melhor amigo e Nastya, que aos poucos vai se introduzindo em todos os aspectos de sua vida. À medida que a inegável atração entre os dois fica mais forte, Josh começa a questionar se algum dia descobrirá os segredos que Nastya esconde – ou se é isso mesmo que ele quer.
Título: Mar da Tranquilidade
Autor(a): Katja Millay
Páginas: 368
Editora: Arqueiro
Avaliação: 4/5


A primeira coisa que me conquistou em Mar da Tranquilidade foi a capa, tanto pela sua simplicidade quanto pela sua simbologia: um casal em feito de um pequeno desastre. Isso foi praticamente tudo o que eu precisei para querer ler o livro. E existem poucas coisas que me deixam tão feliz quanto um livro que cumpre todas as minhas expectativas. 



Nastya Kashnikiv convenceu seus pais a deixarem ela ir morar na casa de sua tia para fugir do seu passado e deixar tudo o que aconteceu para trás. Há mais de dois anos ela morreu e nasceu de novo e perdeu a capacidade de fazer o que mais amava, além de ter decido calar a sua voz. Agora ela não fala mais com ninguém, se veste da forma mais vulgar possível para afastar a todos e assim continua sobrevivendo. 
Josh Bennet perdeu todos os que amava e agora, com 17 anos, não restou ninguém e isso não é segredo para ninguém. E quando estar perto de você significa morte, não é surpresa nenhuma que exista um campo de força a sua volta que afasta qualquer um de se aproximar. E é essa solidão de Josh que intriga Nastsya e a aproxima dele, mas eles vão descobrir que é muito difícil se relacionar com alguém que guarda toda a sua vida e todos os seus demônios em segredo. 

Eu desenvolvi, nesses últimos tempos, uma preferência por estórias que trazem personagens com grandes traumas ou problemas (o que começou a algum tempo a ser chamado de sick-lit). E não é porque eu sou uma pessoa um tanto quanto dramática que chora por qualquer coisa, mas sim porque essas estórias, na grande maioria das vezes, trazem uma complexidade e uma profundidade de sentimentos que romances normais normalmente não mostram. E não tem nada que eu ame mais do que ser tocada por estória, sentir tudo os que os personagens estão sentindo e me sentir movida e emocionada por isso. 

Mar da Tranquilidade traz personagens que passaram por momentos difíceis, Por um lado temos Josh, que perdeu toda a sua família, todas as pessoas que amava, antes mesmo de completar dezoito anos e agora tem medo de se relacionar e deixar com que as pessoas se aproximem porque não sabe se vai suportar perder alguém que ama mais uma vez.  E temos Nastya, nós não sabemos no começo o que aconteceu com ela, mas sabemos que foi algo tão forte e tão ruim que fez ela tomar a decisão de nunca mais falar, fez com que ela perdesse toda a sua identidade e se mantivesse longe de qualquer contato humano possível. Essa é uma parte crucial da estória, esses traumas perseguem os personagens durante todo o tempo, porém a parte do livro que se desenvolve com mais naturalidade é onde, por um pequeno momento, nos esquecemos de que todo esse plano de fundo existe. Não me entendam mal, eu ainda acho que é essa parte da estória que a deixa especial, é o que constrói os personagens que passamos a amar, que move todo o enredo, que traz todas as lições do livro sobre perda, perdão e segundas chances. Mas eu acredito que em comparação a outros livros desse gênero essa parte da estória não conseguiu se entrelaçar completamente a todos os conflitos. 

O ponto mais positivo de Mar da Tranquilidade, para mim, é o romance entre a Nastya e o Josh, não só pela relação em si, mas por tudo que ela representa para eles. A autora leva praticamente dois terços do livro para construir a relações dos dois e isso fez toda a diferença, nós conseguimos acompanhar o porquê e o como eles se aproximam, conseguimos aos poucos enxergar a aproximação deles se tornando maior e, finalmente, perceber como um é importante para o outro. Juntos eles se tornam pessoas mais leves, mas felizes e, principalmente, menos sozinhas. Um é o começo da salvação do outro.
São poucas as vezes que um relacionamento consegue mexer tanto assim comigo, mas aqui eu senti tudo o que eles estavam sentindo, a força dos sentimentos que os ligavam e a simplicidade e beleza da relação que construíram. Foi a relação dos dois o que mais me emocionou e me tocou em todo o livro.

Por mais que Mar da Tranquilidade não seja um livro perfeito, ele traz personagens machucados pela vida e imperfeitos que deixam uma marca, traz a profundidade de sentimentos e complexidade que me fascina nos livros e um romance lindo e sincero. Uma leitura que fala sobre perda e perdão, que mostra a força das segundas chances e que me fez rir, chorar e me apaixonar e, como eu sempre digo, tudo que te faz sentir tão intensamente vale a pena. 
Eu vivo num mundo sem magia nem milagre. Um lugar onde não há clarividentes nem metamorfos, anjos ou garotos super-humanos para nos salvar. Um lugar onde as pessoas morrem e a música se desintegra e tudo é um saco. O peso da realidade nos meus ombros é tão grande que às vezes me pergunto como ainda consigo erguer os pés para caminhar.
Acho que sempre vou estar despedaçada. Posso trocar os fragmentos de lugar, rearrumá-los, dependendo do dia, dependendo do que eu preciso ser. Posso mudar num piscar de olhos e ser muitas garotas diferentes, sem que nenhuma delas tenha que ser eu.
Eu não me sinto desconfortável por observá-lo. Ele também me observa. Temos um acordo não declarado: eu o deixo me olhar; ele me deixa olhá-lo. Nunca chamamos atenção para isso. É um presente que damos um ao outro. Nada de condições, nada de expectativas, nada de ler nas entrelinhas. Somos como um mistério. De repente, se eu conseguir desvendá-lo e ele me desvendar, a gente possa se explicar para o outro. Talvez seja disso que eu esteja precisando. De alguém que me explique.
E então ele faz algo que choca até a mim. Josh Bennett, rei dos estoicos caladões, dá uma gargalhada. Josh Bennett dá uma gargalhada, e é um dos sons mais naturais, lindos e sem-vergonha que já ouvi. (...) Josh Bennett dá uma gargalhada e, por um minuto, tudo no mundo está em seu devido lugar.

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