Resenha: Sangue Quente por Isaac Marion
16:47Sinopse: R é um jovem vivendo uma crise existencial – ele é um zumbi. Ele perambula por uma América destruída pela guerra, colapso social e a fome voraz de seus companheiros mortos-vivos, mas ele busca mais do que sangue e cérebros. Ele consegue pronunciar apenas algumas sílabas, mas ele é profundo, cheio de pensamentos e saudade. Ele não tem recordações, nem identidade, nem pulso, mas ele tem sonhos. Após vivenciar as memórias de um adolescente enquanto devorava seu cérebro, R faz uma escolha inesperada, que começa com uma relação tensa, desajeitada e estranhamente doce com a namorada de sua vítima. Julie é uma explosão de cores na paisagem triste e cinzenta que envolve a ‘vida’ de R e sua decisão de protegê-la irá transformar não só ele, mas também seus companheiros mortos-vivos, e talvez o mundo inteiro.
Título: Sangue Quente
Autor(a): Isaac Marion
Páginas: 256
Editora: Leya
Avaliação: 5/5
Nunca fui muito fã de zumbis, mas por esse livro tratar deles de uma forma completamente diferente eu resolvi arriscar. E valeu a pena, não só pela história em si, mas pela escrita do autor e pela maneira como ele conseguiu criar personagens tão críveis e que parecem extremamente reais.
R é um zumbi, como muitos que estão dominando o mundo, mas, apesar de não se lembrar de nada do que era antes de morrer, ele pensa e quer mais da "vida" do que só ficar andando, murmurando palavras e comer cérebros. Um dia. quando estão indo se alimentar, ele come o cérebro de Perry e sente um impulso sem sentido de salvar a sua namorada, Julie. E conforme ele convive com ela, R começa a mudar aos poucos, começa a deixar de ser "morto".
Nunca pensei que iria gostar tanto de um personagem zumbi, mas aconteceu. R apesar de morto, consegue transparecer para o leitor a sua personalidade forte, a sua vontade incansável de ser mais do que foi fadado a ser. E você consegue acreditar nele, achar sentido naquele conflito interno que ele passa, porque apesar de tudo ele tenta, errando e acertando, mas tenta. A Julie é o contraponto perfeito que R precisa, ela é repleta de vida e esperança, coisa que se é difícil de achar ali. E além deles, todos os personagens que o Isaac criou são tão cheios de personalidades e verdadeiros que não posso deixar de citar como simpatizei com o M e a Nora e como odiei o pai da Julie e o Perry - ele é muito chato, nossa.
Mas o grande ponto positivo foi que o livro passa muito mais que uma história de amor entre um zumbi e uma humana. O livro fala sobre como nós estamos destruindo nós mesmos e o mundo, e isso fica claro quando a Julia diz que acha que a causa dos zumbis poderia não ter sido um vírus ou qualquer outra coisa do tipo, mas sim que nós atingimos um lugar tão sombrio em nós mesmo que não teve volta. Mas combatendo isso o autor valoriza também a esperança e força para não se deixar entregar.
No livro o autor não fala porque ou como os zumbis apareceram e como o mundo foi acabar daquela forma e também não trás um solução no final e eu não achei isso um defeito, não acredito que estivesse nos planos dele explicar alguma coisa. Isso deixou, claro, alguns buracos e possibilidades no final para talvez mais livros sobre essa história, mas também não é necessário mais nada ao mesmo tempo.
É um livro diferente do que eu estava acostumada e foi uma surpresa positiva. Um livro divisor de opiniões, onde ou você ama ou você odeia, e que eu fiquei feliz de amar. Indico sim, para que vocês leiam e tirem suas próprias conclusões.
Mas a perda dele, a mais básica das paixões humanas, pode resumir todo o resto. As coisas ficaram muito mais silenciosas. Simples. E é claramente um dos sinais mais exatos de que estamos mortos.
Será um efeito placebo? Uma ilusão otimista? Seja como for, sinto que a linha reta da minha existência está mudando, formando vales e morros como os batimentos cardíacos.
É uma sensação estranha estar completamente rodeado por ela. A essência vital dela está em tudo. Ela está em mim, abaixo de mim e ao meu lado. E como se o quarto inteiro fosse feito com ela.
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